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sábado, 12 de novembro de 2022

Fernando Pessoa

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Fernando Pessoa)



Fernando Pessoa

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13 de junho de 1888 — Lisboa, 30 de novembro de 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português.
Enquanto poeta, escreveu sob diversas personalidades – heterónimos, como Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro –, sendo estes últimos objeto da maior parte dos estudos sobre a sua vida e obra.
Fonte: Wikipédia

Conheça a obra de Fernando Pessoa.
Acesse: http://www.dominiopublico.gov.br



domingo, 11 de julho de 2021

Escrevo

Razão de ser

Escrevo. E pronto.

Escrevo porque preciso,

preciso porque estou tonto.

Ninguém tem nada com isso.

Escrevo porque amanhece,

e as estrelas lá no céu

lembram folhas de papel,

quando o poema me anoitece.


A aranha tece teias.

O peixe beija e morde o que vê.

Eu escrevo apenas.

Tem que ter por quê?


Paulo Leminski 

Do livro “Distraídos venceremos

segunda-feira, 2 de março de 2020

Emergência - Mario Quintana



Emergência

Quem faz um poema abre uma janela.

Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo —
para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.

Mario Quintana







Mario Quintana foi poeta, tradutor e jornalista.

Estreou na literatura em 1940 com o livro “A Rua dos Cataventos”. 
Traduziu as obras “Em Busca do Tempo Perdido”, de Marcel Proust,
e “Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Carlos Drummond de Andrade

Lira romantiquinha
Carlos Drummond de Andrade


Lira romantiquinha

Por que me trancas
o rosto e o sorriso
e assim me arrancas
do paraíso?

por que não queres
deixando o alarme
(ai, Deus: mulheres)
acarinhar-me?

Por que cultivas
as sem-perfumes
e agressivas
flores do ciúme?

Acaso ignoras
que te amo tanto,
todas as horas,
já nem sei quanto?

Visto que em suma
é todo teu,
de mais nenhuma
o peito meu?

Anjo sem fé
nas minhas juras
porque é que é
que me angusturas?

Minh'alma chora
frio e tristinho
não te comove
este versinho?

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 4 de janeiro de 2020

Poeminho do Contra

Imagem: Leonora Carrington

Todos esses que aí estão

Atravancando meu caminho,

Eles passarão…

Eu passarinho!


(Mario Quintana)




segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Esquadros - Adriana Calcanhoto



A canção "Esquadros" (1992), de Adriana 

Calcanhoto, foi feita em homenagem

ao irmão Cláudio, que é deficiente visual. 

A música, que faz parte do álbum Senhas (1992)





Esquadros

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores
Passeio pelo escuro
Com muita atenção
No que minha irmã ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, eu quero chegar antes
Pra sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
E exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor, cadê, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu acordei, não tem ninguém

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

o Corvo - Edgar Allan Poe

Ah! bem me lembro! bem me lembro!
Era no glacial dezembro;
Cada brasa do lar sobre o colchão refletia
A sua última agonia.
Eu ansioso pelo Sol, buscava
Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora,
E que ninguém chamará mais.

Trecho de The Raven (O Corvo) de Edgar Allan Poe.
Tradução por Machado de Assis



O corvo e o gato



O Jornal da Poesia traz a tradução
da obra de Poe por Machado de Assis
Acesse o site: 

sábado, 14 de dezembro de 2019

Hilda Hilst

“Se você é coerente consigo mesmo,
o resto é suportável.
Eu suporto.”

Hilda Hilst


Hilda de Almeida Prado Hilst, mais conhecida como Hilda Hilst, foi uma poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira.





Imagem de Igor Morski, designer gráfico, ilustrador e cenógrafo polonês e um artista conhecido por explorar os horrores não tão sutis da sociedade moderna, através de suas ilustrações controversas.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Calendar of Yesterday's Wishes by Rafal Olbinski
Como os manuscritos do Mar Morto, 

como todo livro que chegou

até nós das mãos de leitores distantes,

cada um de meus livros traz consigo

a história de uma sobrevivência.

Do fogo, da água,

da passagem do tempo,

de leitores descuidado

ou das mãos do censor - 

cada um dos meus livros escapou de

alguma coisa para me 
contar uma história.


Alberto Manguel



domingo, 10 de novembro de 2019

Que o tempo nunca leve...

Imagem: Imagem: Chervona Vorona

Que o breve
seja de um longo pensar

Que o longo
seja de um curto sentir

Que tudo seja leve
de tal forma
que o tempo nunca leve.

(Alice Ruiz)






Alice Ruiz Scherone é uma poeta, haicaista, letrista e tradutora brasileira. 
Possui mais de 20 livros publicados, com poemas traduzidos e
publicados em vários países.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Desejo - Hilda Hilst

Obra de Eduardo Kobra



Quem és? Perguntei ao desejo.

Respondeu: lava. Depois pó. Depois nada.


Hilda Hilst







Inserido no livro Do desejo, o brevíssimo poema acima concentra uma enorme quantidade de informação em apenas dois versos.

Nas duas linhas percebemos que se passa um diálogo imaginário entre o eu-lírico e o interlocutor, o desejo. O eu-lírico pergunta ao desejo quem ele é, e ouve como resposta uma mensagem que possui múltiplas interpretações possíveis.

Lava faz uma referência ao magma, a abundância que transborda dos vulcões em erupção. 
Depois da enxurrada do desejo resta o pó, a memória dos acontecimentos. O que se sucede depois do pó é o nada, demonstrando a fugacidade do desejo.
Fonte: https://www.culturagenial.com/hilda-hilst-melhores-poemas/

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Ela abriu mão

Nothing But a Pack of Cards por Michael Cheval
Nothing But a Pack of Cards por Michael Cheval
Ela abriu mão. Sem nenhuma palavra, ela abriu mão.

Abriu mão do medo. 

Abriu mão dos julgamentos. 
Abriu mão da confluência das opiniões em torno de sua cabeça. 
Abriu mão do comitê de indecisões dentro dela. 
Ela abriu mão de todas as razões "certas". Inteira e completamente, sem hesitação ou preocupação, ela abriu mão.

Ela não perguntou a opinião de ninguém. 

Não leu um livro sobre "Como abrir mão". 
Não procurou nas escrituras. 
Apenas abriu mão. 

Ela abriu mão de todas as memórias que a prendiam. 

Abriu mão da ansiedade que a impedia de seguir em frente. 
Abriu mão do planejamento e cálculos sobre como fazer isso certo.

Ela não prometeu abrir mão. 

Ela não escreveu um diário sobre isso. Nem anotou na agenda sobre esse dia. 
Ela não fez nenhum pronunciamento público e não fez anúncio no jornal. 
Ela não verificou a previsão do tempo e nem leu seu horóscopo diário. 
Ela apenas abriu mão.

Ela não analisou se deveria ou não abrir mão. 

Não ligou para os amigos para discutir o assunto. 
Não fez nenhum tratamento espiritual de cinco passos. Não ligou para o padre. 
Ela não pronunciou nenhuma palavra. Ela apenas abriu mão.

Não tinha ninguém perto quando isso aconteceu. 

Nenhum aplauso ou parabéns. 
Ninguém a agradeceu ou elogiou. 
Ninguém percebeu nada.
Como uma folha que se solta da árvore, ela apenas abriu mão.

Não houve esforço. Não houve briga. Não foi bom e não foi ruim. Foi o que foi, simples assim.


E nesse espaço de abrir mão, ela deixou tudo ser. Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. Uma leve brisa soprou através dela. E a lua e o sol brilhavam para sempre.


(Saphire Rose)


Originalmente postado no site Querida Ansiedade de Camila Wolf.

terça-feira, 23 de julho de 2019

Amor, então, também, acaba?


Rabbit Hole Dance 2018 by Michael Cheval
Rabbit Hole Dance 2018 by Michael Cheval
Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.


Paulo Leminski

Do livro “Caprichos e relaxos”.

quinta-feira, 20 de junho de 2019

As sem-razões do amor

Marc Chagall
The Betrothed and the Eiffel Tower, 1913
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

(Carlos Drummond de Andrade)